Estrelense, Jandiro Adriano Koch, lança sua primeira obra literária
Jandiro (Jan) empurra para longe o conceito de travesti e brinca com a ideia de ser um "estranho no ninho".Vinte e sete crônicas e sete ensaios envolvendo homoafetividade, drogas, política, comportamento, Aids e questões sociais prometem ser uma leitura atrevida e pulsante numa sociedade povoada por alemães, italianos e açorianos.
Para o Vale do Taquari, a obra apimentada que Jandiro Adriano Koch acaba de lançar pela editora Univates reflete um espírito transgressor próprio de quem foge do lugarcomum.
O livreto (Ir)Reflexões & Ensaios trata de temas polêmicos de forma transparente, comportamento absolutamente normal para alguém que nunca gostou de se esconder nas gavetas.
A figura excêntrica de Jandiro chama a atenção.
Mas é pela mente que ele atrai.
Funcionário público do INSS, Jan, como gosta de ser chamado, não tem papas na língua e nem na ponta da caneta.
Para ele, o Vale do Taquari é uma terra de ranços religiosos.
Ele é o estranho no ninho, que, sendo gay, se recusa a viver em guetos e invade o espaço heterossexual.
Cabelos longos, perfil longilíneo, biotipo feminino, Jan tem ideias fortes e sempre que pode “alfineta” os tabus da região.
Ele não tem certeza de ser o primeiro autor homossexual do Vale, mas aceita a definição “É interessante ser visto como o primeiro homossexual do Vale do Taquari a publicar uma obra, mas pode não ser verdadeiro, afinal de contas, mal sabemos da sexualidade dos tantos que já foram e dos que estão aí.”
Mesmo não gostando de tarjas e preferindo uma imagem outsider - que não se enquadra -, enquanto ninguém reclamar o “trono”, informa que vai ficando.
Ser um “estranho no ninho” o levou às funções literárias. Um gay literato? Talvez, mas quaisquer rótulos podem ser fonte de más interpretações.
“Se eu precisasse de uma autodefiniçao dentro das letrinhas que reduzem o universo gay, hoje LGBT - lésbicas, gays, bissexuais e transexuais - com grupos sugerindo e, por vezes, adotando variações, não saberia me encontrar.”
Ele pondera que para a sociedade, baseada no que enxerga, talvez travesti seja o conceito mais adotado - o que nem de longe é real e nada simples de explicar.
Jan conversa com o leitor. Suas irreflexões são ponderações que fogem ao pensamento de rebanho.
Jan valoriza a opinião individual e os conflitos.
Tabus do Vale
Para o autor, a homossexualidade é um tabu no Vale.
As colonizações alemã e italiana, de alicerces fortemente protestantes e católicos, encobrem o tema sob um véu de pudor.
“Também consequência de um meio não exatamente cosmopolita, de uma realidade ainda interiorana, que, não há como negar, também tem seus atrativos.” Para o autor, a discriminação é mais do que óbvia.
“Uma das primeiras coisas com necessidade de desconstrução é a noção de que um heterossexual homem que é amigo de um gay pode ‘queimar o filme’”.
Ele cutuca: “O que ‘queima o filme’ é demonstrar que não se tem um cérebro”.
“Ratazana”
Jan nasceu em Arroio do Ouro, localidade do interior de Estrela, numa família pobre, que jamais comentou sobre sua homossexualidade, mas acabou sendo seu porto seguro quando foi preciso.
A leitura o acompanhou por toda a adolescência.
Diz ter sido “ratazana” de bibliotecas.
Lê de tudo, mas tem preferência por biografias, cartas, memórias e crônicas.
Refugiado nos livros, Jan não percebia o efeito de sua homossexualidade.
Foi quando se transferiu do interior para o Centro da cidade que percebeu a reação das pessoas, enfrentando manifestações “homofóbicas”, passando até por um malfadado abaixo-assinado visando sua demissão do órgão público onde trabalhava na época.
“Algumas manifestações nada simpáticas me mostraram o quanto o mundo poderia ser cruel.”
A convivência, aos poucos, desmistificou a pecha de que alguém com estereótipo trans serve apenas para a prostituição.
Depois de passar em outro concurso público, acabou no INSS de Lajeado, onde trabalha hoje.
“Em todos os locais houve algum estranhamento, em uns mais e em outros menos. No INSS, o respeito e a boa convivência são de tal ordem que não imaginaria ser possível há alguns anos. Sinais dos tempos.”
Serviço
Título: (Ir)reflexões & Ensaios
Autor: Jandiro Adriano Koch (Jan)
Editora: Univates
Locais de venda:
Livraria do Estudante e Armazém Livraria (em Estrela)
Espazzo Livraria e Livraria da Univates (em Lajeado)
Valor: R$ 21,00.
fonte: www.nossadica.com.br
Como é bom ler!
ResponderExcluirO saber realmente não ocupa lugar!
E viva os gaúchos.
ResponderExcluirLuciane Oppelt
Como é bom ler, concordo.
ResponderExcluirTemos que colocar a leitura em dia. Bjos Celinha
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